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Quando os pais viram torturadores
Publicado em 2014-04-28 13:32:11



A., 8 anos, pegou um pote de salada para comer. A punição: teve uma das mãos queimadas pela própria mãe. F., 10, deixou o portão aberto, e o porco, criado pela família, fugiu: foi o motivo para ser espancada pelo pai com uma borracha de geladeira. G. pegou R$ 10 na bolsa da madrasta sem pedir. Ela tem 10 anos, mas isso não aliviou o corretivo: teve 50% do couro cabeludo arrancado. 
 
Os motivos são banais, e as agressões, cruéis. O pior é que acontecem dentro de casa, e partem dos próprios pais, ou de quem deveria cuidar das pequenas vítimas: tios, avós, babás. De acordo com o delegado Érico de Almeida Mangaravite, adjunto da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), só no ano passado foram registradas 200 ocorrências desse tipo. 
 
A crueldade é tamanha que muitas vezes tem sido classificada como algo além dos maus-tratos. Diante de tanta maldade, pais e cuidadores estão sendo autuados pelo crime de tortura.
 
“São casos que envolvem meios cruéis, como causar queimaduras ou ajoelhar durante horas em sementes. O objetivo do agressor é causar intenso sofrimento à vítima. Agem de forma covarde com a criança. Infelizmente, não há limite para a maldade humana”, lamenta o delegado.
 
O crime de tortura é mais difícil de se comprovar do que o de maus-tratos. A polícia recorre ao depoimento da criança e de parentes e a laudos do DML comprovando a violência. 
 
Quande é possível provar que a criança foi vítima de intenso sofrimento, o agressor pode ser preso pelo crime de tortura. A pena é quatro vezes maior que a pena por maus-tratos. 
 
Segundo a DPCA, em dois anos (2012 e 2013), foram registrados 10 casos. O nível de violência impressiona até mesmo os policiais.
 
“Já encontramos crianças em situações tão graves que o flagrante permitiu a autuação por tortura. Elas chegam assustadas e arredias e não conseguem confiar nem mesmo na polícia. É um trabalho feito com muita cautela, pois precisamos mostrar para elas que estamos aqui para protegê-las”, frisou o delegado.
 
Medo 
 
A sensação de insegurança e medo são marcas da violência psicológica que essas crianças sofrem. Ao contrário das marcas físicas, dificilmente elas se curam com o tempo. Essas agressões se refletem no comportamento dos pequenos. Quando vítimas de maus-tratos, muitos ainda conseguem manter o laço com a família e são capazes de perdoar. Já os casos de tortura são muito mais difíceis de superar. 
 
A psicóloga Adriana Muller explica que as vítimas de violência constante têm os vínculos afetivos descontruídos. “As crianças têm como referência os adultos, na maioria das vezes, os pais. Quando este adulto vira uma ameaça, a perda é dupla. Além da dor física, há a dor do abandono”, diz. 
 
Para a criança, surge a dúvida que ela pode levar para o resto da vida: “A criança passa a se perguntar quem vai protegê-la, se quem tem essa função a machuca”, explica Adriana. 
 
Uso de álcool e outras drogas pioram o problema 
 
O uso de drogas, álcool e brigas na família são fatores que influenciam no tratamento agressivo dos pais com os filhos. 
De acordo com a psicóloga Adriana Muller, motivados por algum vício, os agressores perdem o controle e se excedem na punição.
 
Mas segundo ela, existem casos em que os pais são cruéis e utilizam a violência como forma de punição.
 
“Eles acreditam que tem domínio sobre os filhos e, por isso, podem agir com atos violentos. Alguns justificam que foram educados dessa maneira. As pessoas que agem com maldade possuem um desvio de personalidade e precisam de tratamento psicológico”, concluiu.
 
Denúncias que chegam à justiça têm aumentado 
 
“Elas se mostram fragilizadas, algumas não aguentam mais esconder aquilo e querem contar tudo. Já outras, sentem tanto medo que não conseguem falar uma palavra”. 
 
Assim descreveu a juíza Fabrícia Gonçalves Calhau Novaretti, sobre a maneira como as crianças, que sofrem maus-tratos, chegam até a Vara Criminal.
 
Segundo ela, as denúncias têm aumentado, e os casos surpreendem as autoridades.
 
Ao chegar à Vara da Criança e do Adolescente, cada situação é analisada. Se a criança estiver com a vida em perigo, ela é encaminhada para uma casa de acolhimento. 
 
Segundo a juíza,os abrigos são importantes para que a criança se reconheça enquanto pessoa. 
 
“Crianças que sofreram espancamento, tortura, acreditam que as pessoas só querem machucá-las. Então,as casas de acolhimento vão cuidar fisicamente e psicologicamente delas”, disse.
 
O educador João Carlos Oliveira Santos,47, trabalha há dois anos transmitindo segurança e carinho para crianças em abrigo.
 
“Existem bons lugares para morar,e o abrigo é um deles. Aqui, passamos valores que elas possam construir.É uma recomeço na vida delas”, disse.
 
Crueldade sem limites 
 
Surra de borracha 
 
08/03/2014 - Uma menina de 10 anos foi barbaramente espancada pelo pai com uma borracha de geladeira. O motivo foi que ela teria deixado o portão aberto ao sair para a escola, e um porco criado pelo pai, fugiu. O caso ocorreu na Serra e deixou até policiais indignados. 
 
Tortura 
 
18/02/2014 - Um casal de comerciantes foi preso acusado de torturar e manter em cárcere privado os dois filhos,uma menina de 10 anos e um menino de 12 anos, em Fundão. A menina teve parte do couro cabeludo arrancado pela madrasta. As crianças ficavam a noite inteira ajoelhados em pequenas pedras. Os irmãos também eram obrigados a comer ração de cachorro.
 
Trancado em casa 
 
23/11/2012 – Em Barramares, Vila Velha, a PM socorreu um menino de quatro anos, que gritava por socorro, trancado dentro de casa. A criança relatou que era agredida constantemente pelo padrasto com pedaços de pau, cabo de vassoura e socos. O menino era obrigado a ajoelhar em grãos de arroz. 
 
Babá 
 
11/06/2012 – Uma babá de 32 anos foi condenada por agredir uma menina de 5 anos, na Mata da Praia, em Vitória. Câmeras do condomínio mostraram que a babá puxava o cabelo da criança, empurrava e dava cotoveladas.
 
Com vara
 
26/07/2011 – No bairro Vista Linda, em Cariacica, dois irmãos de 5 e 7 anos foram agredidos pela mãe com uma vara, porque eles tinham ido para a rua. Quando chegou em casa, o pai obrigou os dois garotos a ficarem ajoelhados, com o rosto voltado para a parede, por 40 minutos. 
 
Mão queimada 
 
17/02/2011 – uma menina de 8 anos teve a mão queimada pela própria mãe, porque pegou um pote de salada para comer, em Guarapari. A criança contou que a mãe disse que na próxima vez, iria colocar a boca dela no fogo.
 
Colher quente
 
30/05/2009 – Em Cariacica, uma mulher de 27 anos queimou as mãos dos dois filhos, um menino de 9 anos e uma menina de 7 anos, com uma colher quente. Ela alegou que “queria apenas dar um corretivo nas crianças”.


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